sábado, 25 de abril de 2009

A miséria ama companhia


As horas passavam impiedosamente. Cada vez que o ponteiro do relógio se movia, seu coração apertava fracamente, diminuindo sua capacidade de respirar. Seus pensamentos estavam presos no doce sabor das lembranças. A página foi virada. O sorriso desapareceu.

Abaixo das nuvens brincando no céu, jogou o relógio para o alto. Não parou para ouvir quando caiu nem onde caíra. Correu, apertando os pulmões nas mãos, sangrando mentiras.

Onde estavam as esperanças? Onde estaria aquele que lhe esperava? Onde estaria o sentido da vida? Afinal, havia sentido na vida? As perguntas cambaleavam em sua mente, embaçando seus pensamentos. Gostaria de obter respostas, mas, por outro lado, sabia que não as conseguiria ainda que vivesse toda a eternidade.
Tropeçando em um batente ligeiramente alto, caiu de bruços. Sentindo os arranhões no rosto, largou-se a sorrir. “O melhor de nós pode encontrar felicidade na miséria”, disseram-lhe certa vez.

Caminhando até uma lanchonete próxima, continuou rindo de sua própria desgraça. E, observando as nuvens passeando logo acima, agradeceu por ser humana.