Parecia que o
mundo todo precisava de amor, mas ninguém estava disponível. Ou ninguém sabia
amar. Ou ninguém queria amar. Ou só não conseguiam entender. Mas tudo exalava
cansaço, havia em tudo uma ausência intraduzível, impossível de não enxergar.
Por toda parte, havia mãos soltas desejando afagos, corações lerdos pedindo
velocidades maiores, sorrisos dispersos querendo se firmar. O tempo todo, por
toda parte.
Os que passeiam
pelas ruas, em meio a tanta gente mergulhada em seus próprios propósitos e
anseios, esquecem. Qualquer um esquece que não é o único. Não percebem que são,
entre os outros, mais alguém pedindo atenção, só porque o fazem
inconscientemente, assim automático, não, nem percebem. E aí olham ao redor com
distância no olhar. Raras são as vezes em que se dão conta de que essa
distância é superficial, estão todos muito perto uns dos outros e é a
semelhança que os assusta.
Feito olhar no
espelho. Feito ver a cicatriz de que não se gosta. Feito encarar a ferida que
incomoda. Feito dar de cara com os defeitos que a gente finge que não tem, que
é pra não se enfadar de si. Olhar o outro é se ver de perto. É também se
perceber de longe. Dessa autoanálise, resta a separação, a fuga, o medo, o
desejo de afastamento para não haver afrontamento. Porque ninguém pretende
desabar.
A verdade é que
ninguém sabe dar amor, mas teima em dar mesmo assim. Uns dão as mãos, outros
dão presentes, alguns dão-se inteiros, há os que se guardem. É uma busca
desesperada por uma dinâmica de interações: eu te amo, você me afaga, eu te
banho, você me irrita, eu te ignoro, você me esquece, eu te chamo, você me
encontra, eu te olho, você me pede, eu te respondo, você consente, eu te vejo,
você se encanta, eu me despeço, você entristece. A gente não cansa de se
cansar.
Em nome dos que
precisam calados, dos que precisam espontâneos, dos que precisam em gritos, dos
que precisam acanhados, dos que precisam devagarzinho, dos que precisam
inteiros, dos que precisam sinceros, dos que precisam fugitivos, dos que precisam
orgulhosos e até dos que fingem não precisar: assumam-se. Olhem-se nos espelhos
todos – não sem medo, mas apesar dele. Encarem-se nos olhos do outro – não sem
fuga, mas apesar dela. Amor não é sobre saber e isso sabemos bem. Não se ama
porque se sabe amar, porque não tem um porquê. O amor só é, então seja. Sejam o
amor que não sabem dar para que o amor seja dado sabendo ser.