domingo, 27 de março de 2011

Muito, muito

Eu quero muito muito muito um pouquinho de alguém. Tenho me desprendido tanto que sinto falta do apego. Estou a fim de sentir. Quero aquela afinidade, boas gargalhadas e abraço de corpo colado. Falta de sono e excesso de bobagens.

Eu quero entrega, sutileza, intensidade, empatia. Mais sorvete, menos juízo. Música, sorrisos, afeto, interação. Intimidade, chocolate, cheirinhos, tempestade na janela, olho no olho, pele sob pele. Eu quero o simples, eu quero o pouco. Mas quero muito.

Quero sentir ser humano. Quero evitar meus enganos. Quero mergulhar com tudo, quero molhar meu mundo. Quero brisar com o vento. Cantar para o tempo. Compor um desejo, alimentar um momento. Quero fincar meus passos, quero participar de laços.

Sei que preciso de espaço, mas também espero uns amassos. Não sou demais paradoxal, mas assim são meus desejos. Sou, enfim, muitos deles; sou, enfim, muita vontade. Sou, assim, poucas verdades. Sendo assim, quero coragem.

É que eu quero muito muito ser de alguém que seja de mim. Eu quero muito muito sorrir o que me escapa. Eu quero muito muito viver o que se libera. E desejo muito muito ser feliz assim.

sábado, 12 de março de 2011

Desconhecido

Eis minha desordem, meu embaraço, minha loucura. Pensas que não faço sentido, que não sei o que sou ou que o que sou está fora do normal. Devo concordar. Faço sentido algum. Quando penso saber quem sou, mais mistérios se apresentam. Normal surge no meu vocabulário para designar o que é diferente de mim.

Eu sou isso aqui, só isso. Que não é pouco, é demais. Transbordo insuficiência, sou isenta de ausências - já que mesmo as tais preenchem grandes espaços e são cheias de um algo que eu nunca soube o que é. Mas é, está aqui e eu o sinto, esse algo meio sem sentido que faz todo sentido para quem o sente.

Eu sou e não estou em qualquer coisa que você já viu. Eu estou e não sou nada que você espera. Não espere de mim, aliás. Aguarde, apenas. Tente descobrir um pouco de mim enquanto descubro você. Mas logo aviso: posso não ser sempre compreensível. Não sou difícil, apenas incoerente.

Eu sou esta confusão. Basta que esteja disposto a recusar o padrão. Basta que queira conhecer um pouco do esquisito, do desconexo. Basta que possa sentar ao meu lado e não sentir que deveria estar em qualquer outro lugar.

Eu sou desordem. Sou loucura, sou embaraço. Sou confusão. Eu sou o que normalmente não são. Sou o que você não pensou que veria.

Sou o desconhecido e o prazer pode ser nosso.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mais vida

Estou bem. Não sei o que eu quero. E é por isso que vou ficar melhor com o que vier, seja o que for. É, cansei de me limitar. Cansei de definir. Cansei de classificar. Vou esperar, então. Aguardar a vida chegar devagarzinho na porta sussurrando que quer entrar. Aguardar que o silêncio que de súbito surge em mim se converta um dia em palavras de afeto. Aguardar sutileza, um pouco mais de verdade.

Aquela história de deixar a vida acontecer, que é pra lá de difícil de se fazer: eu vou tentar. Vou sentar no cantinho e pensar em mim mesma. Vou me dedicar a quem há tanto não se dedica a mim. Tenho estado tanto para outros que preciso com urgência sentar ao meu lado e me fazer cafuné. Tenho me doado tanto, cedido tanto de mim, que demorei a perceber como me sobrava pouco.

Não quero me permitir as migalhas da minha dedicação. Não quero me sentir vazia por estar tão cheia. E vou, vou ficar cheia sim: de amor pra me dar, de sorrisos pra me enfeitar,  de alegrias pra me consumir, de desejos para me recriar.

Tenho sentido a minha falta - e só percebi quando me reencontrei. Tô buscando sim muita vida pra viver. E tô muito a fim sim. De quê? Isso é que eu não sei. Sei que tô a fim, tô muito bem super a fim de mim.

Eu não sei o que eu quero, mas vou me deixar querer. Vou aceitar o que vier. Tô pronta pra vida. Se eu tenho certeza disso? E quem liga? Quero mais é descobrir.