quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Abertura para (re)conhecer(se)

Eu tava ali muito dentro de mim mesma, presa naquilo que eu tinha a me oferecer ou precisava. Tava até separando o que é “dentro de mim” do que é “fora de mim”. A gente tem mesmo assim uns momentos de pensar em tudo, né? Acho saudável, inclusive. Que a gente se questione sobre o que nos faz melhor e do que é preciso abrir mão, até pra não cair no comodismo doloroso de se aconchegar num lugar que nos impede de crescer.

Aí eu tava lá. Tava quieta, tava calada, tava sozinha. Parece que quando a gente se cala, mas se cala de verdade, todos acham que você não quer falar. Ou que não tem nada a dizer. Ou que precisa de distância. Mas e quando o silêncio é você querendo ser ouvido?

- Vou fazer bem muito silêncio, muito, muito silêncio, tanto silêncio que todo mundo vai ouvir minha ausência, vão se calar pra ouvir junto comigo que o meu silêncio tá desesperado, tá dizendo tanto.

E ninguém ouviu.

Esperar que o outro ouça nosso silêncio é requerer que prestem uma atenção e um cuidado que nem todo mundo está disponível para dar. Não que devessem prestá-los todo o tempo, é que a gente se distrai mesmo. Na própria angústia, dor, alegria, anseio, raiva, desestímulo... A gente se distrai em si mesmo e do outro.

E a gente esperando o outro lá, distraído, vai se contraindo, inquieta. Quieta. É que esperas são árduas e a gente já cansada de se calar...

Um silêncio bem, bem alto às vezes não é suficiente. Decidi que meu silêncio não era audível, mas não porque quem estivesse por perto não quisesse ouvir. Não é que as pessoas não estão disponíveis, que não estão abertas, é que elas também se calaram. Calaram os ouvidos para o que não é paixão, os lábios para o que não for doçura, os dedos para o que não for arrepio, os olhos para o que não for belo, o nariz para o que não for perfume. E a gente que está lá com uma angústia que não é sorriso nem sabor nem fragrância não é percebida. E a gente que está lá com uma angústia que quer ser ouvida não percebe que o outro tá ali oferecendo beleza e músculos relaxados.

Eu falho em notar no outro o que ele não me diz em palavras, sem perceber que ele está me dando todos os sinais no jeito que tomou o café hoje de manhã, quando não riu da piada que eu contei, no olhar disperso fora da janela, no abraço com ombros recaídos, no meio sorriso que se ergue de um lado só. Até o convite que não chega para comemorar o fim de semana me diz do que é preciso ouvir. E eu, que preciso tanto, tanto falar, calei os ouvidos. E ele, que precisa tanto, tanto sorrir, calou as tristezas – inclusive as alheias. E o outro, que precisa tanto, tanto se distrair, calou a atenção. O que a gente não diz, deixa escapar.

Aí outro dia vieram me falar que quem muito guarda o que sente sem compartilhar com os outros compensa a ansiedade comendo. E eu ando mesmo ganhando peso: o peso do não-dito.