segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Subterfúgio

Fracas fugas
De fortes fraquezas
De ardentes pecados
De sutil solidão

Vou embora
Caio veloz
Beijo o chão
Parti chorando

Fracas fugas
De calmos sorrisos
De lacrimejantes alegrias
De beijos apaixonados

Chegou minha hora
Dessa vez eu vou
Escorrego devagar
Fotografo o adeus

Fracas fugas
De delicadas derrotas
De dolorosos apelos
De caminhos confusos

Eu vou embora
Não volto
Em doses homeopáticas fico
Me guarda

Fracas fugas
De fortes fraquezas
Eu vou
Adeus

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nua

Estou num desses raros momentos da vida em que não sinto medo, nem tristeza, nem raiva, nem pressa. É como finalmente aceitar-se flutuando na superfície do mar, ciente de que a correnteza é mais forte que seus esforços para alcançar a extremidade oposta e quase gostar desta repentinamente compreendida como falta de direção. Até por sabê-la incompleta, por reconhecê-la momentânea, por captá-la como é: repentina, mas também efêmera.  

Sem pressa. Não quero correr e encontrar logo um caminho para seguir, ainda que por vezes seja inquietante deixar-se levar. É o seguinte: estou seguindo – e isto basta.

Parece até que afundei meus dedos na areia ao entardecer esperando que as águas viessem até mim e percebi que, apesar de me aprazer na aconchegante sensação de estar fincada em algum lugar, eu posso cuidadosamente ir em direção às ondas e lavar os meus próprios pés. Sozinha e solitária, plena de mim mesma. E apreciar os ventos que bagunçam os fios de meu cabelo, jogando-os à frente de meu rosto, sem que me incomode. E mergulhar despida no mar, roçando minha nudez no sal dissolvido da imensidão, sem que isto me doa – ou que me doa, mas que eu saiba reconhecer a dor e vivê-la em seu âmago, inteira.

Eu não mais reconheço o que me tomou a liberdade. Só pareço perceber o quanto quero este abandono – quero, quero, quero (e é só neste momento em que o medo brota dentro de mim: agüentarei?).

Acho que perdi muito neste encontro com o mar. Por isso me sinto leve. É por tanto que meus olhos quase dizem: leve-me. Leve-me, leve. Sem medo, tristeza, raiva ou pressa. Quero mergulhar, quero afogar a mim mesma neste... Shh, e só atenta, é agora! As onomatopéias deste mergulho se professam:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Lis,

Eu te amo, só não te quero mais. Não quero voltar para os teus abraços daquele jeito. E sei que seria sempre mais do mesmo, já não suporto mais. Seríamos a repetição dos mesmos erros. Da tua fuga, do meu pedido; das tuas desculpas, do meu vício; das tuas mentiras, do meu perdão; dos teus impulsos, do meu cuidado; do teu silêncio, de meus gritos; do teu escuro, da nossa vontade.

Não, não. Já descartei nossas cartas – que queimem. Não quero a tentação de captar teus sorrisos de papel mais uma vez. Que naquelas linhas em brasa viva a paixão que nos abrasou. Não compreendo que borrachas não adiantem para extinguir, que novos lápis componham a mesma história e que as réguas não meçam um horizonte. Mas descartei, sem compreender, pois nem sempre devemos aguardar compreensão para agir – e agi, sem temer, ainda que esta seja uma das minhas grandes ilusões.

Sabe que visualizei claramente uma esperança? Deve ser a  isto que temo. É o primeiro passo para as mágoas e decepções que gostaria de evitar. Mas não, não vou. Não seria eu. Fugir do ápice para evitar o declínio não diz de quem sou. Por isso tenho esperança. Porque o medo de cair é menor que a vontade de voar.

Eu poderia dizer para que me esqueça, mas quero pedir que não o faça. Por favor, mantenha minha lembrança em sua memória. Ao menos o suficiente para que eu saiba que fomos. Que não somos, mas fomos, e que isso importa.

E, por último, deixe-me confessar: tu parece até flor. Flor bonita. Que se enraizou no chão – e que não tem pressa de voar. Tudo bem. Entendo, você quer a solidão de ser bela e admirada, enraizada e sozinha. Quase gosto disso. Mas eu preciso partir. Não estou disposto a me acorrentar ao seu lado por ser bela assim e seu cheiro envolvente como é. 

Eu vou embora, Lis. Vou procurar sem buscar alguém que queira caminhar comigo. Se acontecer de conseguir voar, em algum momento, eu me lembrarei de você. Só quero que saiba de mais uma coisa: nesse momento, eu vou sorrir.

Com amor,

O meu eu-lírico.