Eu te
amo, só não te quero mais. Não quero voltar para os teus abraços daquele jeito.
E sei que seria sempre mais do mesmo, já não suporto mais. Seríamos a repetição
dos mesmos erros. Da tua fuga, do meu pedido; das tuas desculpas, do meu vício;
das tuas mentiras, do meu perdão; dos teus impulsos, do meu cuidado; do teu
silêncio, de meus gritos; do teu escuro, da nossa vontade.
Não,
não. Já descartei nossas cartas – que queimem. Não quero a tentação de captar
teus sorrisos de papel mais uma vez. Que naquelas linhas em brasa viva a paixão
que nos abrasou. Não compreendo que borrachas não adiantem para extinguir, que
novos lápis componham a mesma história e que as réguas não meçam um horizonte.
Mas descartei, sem compreender, pois nem sempre devemos aguardar compreensão
para agir – e agi, sem temer, ainda que esta seja uma das minhas grandes
ilusões.
Sabe que
visualizei claramente uma esperança? Deve ser a isto que temo. É o primeiro passo para as
mágoas e decepções que gostaria de evitar. Mas não, não vou. Não seria eu.
Fugir do ápice para evitar o declínio não diz de quem sou. Por isso tenho
esperança. Porque o medo de cair é menor que a vontade de voar.
Eu
poderia dizer para que me esqueça, mas quero pedir que não o faça. Por favor,
mantenha minha lembrança em sua memória. Ao menos o suficiente para que eu
saiba que fomos. Que não somos, mas fomos, e que isso importa.
E, por
último, deixe-me confessar: tu parece até flor. Flor bonita. Que se enraizou no
chão – e que não tem pressa de voar. Tudo bem. Entendo, você quer a solidão de
ser bela e admirada, enraizada e sozinha. Quase gosto disso. Mas eu preciso
partir. Não estou disposto a me acorrentar ao seu lado por ser bela assim e seu
cheiro envolvente como é.
Eu vou
embora, Lis. Vou procurar sem buscar alguém que queira caminhar comigo. Se
acontecer de conseguir voar, em algum momento, eu me lembrarei de você. Só
quero que saiba de mais uma coisa: nesse momento, eu vou sorrir.
Com
amor,
O meu eu-lírico.
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