domingo, 20 de junho de 2010

O mistério do cinza


Eu gosto dessa sensação de chuva, desse frio que nos acolhe e encolhe e escolhe o cobertor como lugar mais atrativo. Eu gosto de olhar para o céu e ver o cinza todo misterioso, fechado, quase negando segredos.

Sento-me sob esse cinza audacioso e permito-me mais um devaneio. E mais um, e outro, e mais. O frio me recebe como a um velho amigo. Já que bons amigos confiam um no outro, libero minhas inseguranças, meus receios, meus desejos, minhas finalidades. Assim nesse silêncio intacto, nesse mistério do cinza, nessa limpeza de interior que a chuva dá e nada cobra, consinto com um emancipar-se.

Gosto disso, desses segredos a ninguém, embora a algo. Liberto o que há de mais íntimo em mim na busca da minha própria concepção. Faço dos meus pensamentos a minha própria análise e descubro o que há para se transformar.

O frio abriga meus silêncios tão tagarelas. Sento-me sob o mistério do cinza e dissipo o que há de misterioso em mim. É a sensação da chuva, do frio, que me liberta de mim mesma.