quinta-feira, 19 de abril de 2012

Insuficiência

Sempre estive em conflito, como se esta fosse já minha condição em vida. Este conflito sempre me pareceu ser uma promessa com finalidade de alcançar uma paz interior que nunca verdadeiramente me chegou. Por isso ando em círculos, chuto pedras, tropeço feio, numa tentativa infindável de me encontrar onde nunca me achei. Já disse? Sou desorientada da vida.

Caminho distraída à procura de um sinal que me permita recuar. Mas só avanço, avanço, avanço – sou o impulso de vida. Tão logo imagino, estou reagindo. E este parece ser um de meus maiores fardos: o descontrole de ser.


Não me percebo capaz de me delimitar. Há esta urgência, entende? Este já, este agora, este vamos – mas sem demora. Constantemente me despindo, mergulhando, correndo, assanhada. Não me contenho. Preciso me conter. Rearranjar-me de forma a me aceitar, pois me amar é a mentira que crio para que então possa me suportar.

Sou insuportável.


Mimo-me e enojo-me de tanto me dar o que eu quero. Porque não sei lidar com o indesejado. Estou fraca de resistências. Não resisto a mim e me deixo perder. Ajoelho-me aos meus pés, cedo às minhas próprias vontades, sou uma escrava de mim mesma. Há uma carta de alforria à minha espera – mas onde? Mas será? Mas como? E por que não?

O intenso cansaço de ser que sempre vai, mas sempre volta. Viver não é natural. Viver não é mesmo aceitável ou lógico – é este absurdo! Divergência maior não há que não agüentar mais viver e não conseguir parar. Viver parece sem freios, embora sei que chocarei contra uma muralha a qualquer instante. E um instante qualquer é este mistério de que não podemos nos livrar – angustia, resgata, esboça, penetra e não vai.

O não-saber é que nos causa tudo isto. Este vômito engasgado, estas seqüelas incuráveis, este contorcer-se no chão frio. O sangue que se derrama por tanto querer saber o que nunca se saberá. O vai-e-vem do que parece satisfazer, mas não – mas não, apenas não. E vem pesado, este não – parece afundar. Mas me pergunto o que faríamos de um sim, e do quão longe teríamos de voar sem nem mesmo querer, e apenas partir, sem nem desejar, porque o sim é isto: é ir.

Irei? Algum dia, a qualquer instante, num momento qualquer: irei? Eu suspiro; ainda não sei. Rasgo-me à insuficiência da dúvida, que é a insuficiência de ser, enquanto desejo que eu não mais seja...

Isto arde, pois ainda sou.