Caminho distraída à procura de um sinal que me permita recuar. Mas só avanço, avanço, avanço – sou o impulso de vida. Tão logo imagino, estou reagindo. E este parece ser um de meus maiores fardos: o descontrole de ser.
Não me percebo capaz de me delimitar. Há esta urgência, entende? Este já, este agora, este vamos – mas sem demora. Constantemente me despindo, mergulhando, correndo, assanhada. Não me contenho. Preciso me conter. Rearranjar-me de forma a me aceitar, pois me amar é a mentira que crio para que então possa me suportar.
Sou insuportável.
Mimo-me e enojo-me de tanto me dar o que eu quero.
Porque não sei lidar com o indesejado. Estou fraca de resistências. Não resisto
a mim e me deixo perder. Ajoelho-me aos meus pés, cedo às minhas próprias
vontades, sou uma escrava de mim mesma. Há uma carta de alforria à minha espera
– mas onde? Mas será? Mas como? E por que não?
O intenso cansaço de ser que sempre vai, mas sempre
volta. Viver não é natural. Viver não é mesmo aceitável ou lógico – é este
absurdo! Divergência maior não há que não agüentar mais viver e não conseguir
parar. Viver parece sem freios, embora sei que chocarei contra uma muralha a
qualquer instante. E um instante qualquer é este mistério de que não podemos
nos livrar – angustia, resgata, esboça, penetra e não vai.
O não-saber é que nos causa tudo isto. Este vômito
engasgado, estas seqüelas incuráveis, este contorcer-se no chão frio. O sangue
que se derrama por tanto querer saber o que nunca se saberá. O vai-e-vem do que
parece satisfazer, mas não – mas não, apenas não. E vem pesado, este não –
parece afundar. Mas me pergunto o que faríamos de um sim, e do quão longe
teríamos de voar sem nem mesmo querer, e apenas partir, sem nem desejar, porque
o sim é isto: é ir.
Irei? Algum dia, a qualquer instante, num momento
qualquer: irei? Eu suspiro; ainda não sei. Rasgo-me à insuficiência da dúvida,
que é a insuficiência de ser, enquanto desejo que eu não mais seja...
Isto arde, pois ainda sou.
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