sábado, 11 de dezembro de 2010

Passione


Eu adoro quando você fala o que sente, nessas ocasiões raras em que vê que é mesmo necessário e desnecessariamente acelera meus batimentos cardíacos, umedece meus olhos e inaugura um sorriso diferente em meu rosto, mais espontâneo e com mais verdade.

Você desperta essa verdade em mim, essa força, essa energia. Quando você se desmascara é quando te amo mais, encarando assim o seu eu nu, tão cru, tão seu que ninguém vê, que você a ninguém mostra e que desliza assim, meio sem querer, quando querendo te faço pensar no amor que sente e esconde e evita explicitar.

Mas que você me ama, eu sei, não duvido. Sinto lá fundo esse amor sussurrando devagarzinho. Seu amor sussurra, murmura com lentidão sua vitalidade, enquanto o meu está aqui, todo pronto e pulsante, desabrochando sem medo feito flor em primavera.

Você me ama e das minhas certezas, essa é a que me deixa mais jovem, mais eu mesma. E é porque me ama que sinto essa sede, essa fome, esse desejo tão intenso de quase te possuir. E de todo jeito eu tenho você, além dessa distância que nos abre um espaço físico tão mal vindo.

Eu tenho você aqui dentro de um jeito engraçado, fazendo meus pés quererem se soltar numa dança sem ritmo sob a chuva. É o que me faz feliz, o que me permite continuar, o que me convida a seguir: ter você sabendo que tem a mim, eu sabendo que tenho você.

sábado, 30 de outubro de 2010

Incerteza que devasta

Não me leve a mal, é essa incerteza que me assusta. Eu tenho um medo absurdo de todas as coisas que você não diz e não sei se sente ou pensa. Tenho medo do que se esconde por trás de cada sorriso de fuga, de cada desvio de assunto. Medo do que pode não existir em você, não importa em que eu acredite.

É a verdade, tenho medo de você. Isso porque você tem muito poder sobre mim, sobre o que sinto. Você é um forte determinante da minha felicidade. Sei que caí numa armadilha, que é tudo tão perigoso, mas não há retorno, não tem mais volta. Eu já me permiti te amar completamente. Só me sentirei em paz quando puder sentir que você também me ama por completo.

Você me assusta com o que não diz e eu com todas as palavras que me escapam e te atingem. Irônico como somos perfeitamente opostos. Espero que essa contrariedade de fato nos encaixe. É que eu preciso tanto da tua companhia para não me sentir só nesse mundo. É que quero tanto teu corpo no meu para ser feliz.

Tenho medo disso também. Do que eu quero. Do que você pode não querer. Do que você pode não querer com a mesma intensidade e com os mesmos olhos que eu quero.

Eu tenho tanto, tanto medo. Revolto-me com a sua falta de palavras, com seu excesso de timidez, com sua mania de individualismo. Poxa, me ama, vai. Essas coisas não se pedem e por isso não as digo diretamente, mas eu quero tanto. Um tanto assim que aperta e às vezes sufoca e hoje deixou meus olhos pesados. Por que você não entende que não há vergonha alguma em amar? Você não tem que se envergonhar do que é bonito e verdadeiro. Você só tem que se entregar.

Vai, se entrega. Vem se jogar em mim. Esquece teus conceitos bem calculados e teus medos infundados que os meus também desaparecem. Deita em meu colo, decora o meu cheiro, respira meu corpo, sente o que sou por inteiro. Esquece o que você decidiu ser por uns tempos, experimente e perceba que gosta. Larga essa máscara e agarra minha cintura, finge que vai soltar nunca mais. Só tô pedindo amor. Só quero o que você reprime, só peço que derrube os muros e me convide para entrar assim sem aceitar meu não. Desiste de arquitetar cada atitude e no impulso me puxa pro teu abraço, me prende nos teus braços, me devora de vez. Para de mentir pra si mesmo que consegue ser feliz sozinho, sabe que não. Desiste desse vazio. Prefira mentiras sinceras como a eternidade ao meu lado que eu quero muito o lado teu.

Vem cá, me ama. Apaga teu medo que eu apago o meu. Fala a tua mente que abaixo o volume da minha. Sorria, até chore, mas me ame. É só o que eu quero, vejo nada de mais. Me ama, vai.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Diferentes dimensões do eu

Eu sou profunda. Tenho uma imensidão dentro de mim, tão vasta que ninguém jamais abraçou. Tudo o que há por dentro não sabe cair fora e se torna um tudo inquieto, um tudo que quer explodir e se expandir e ir embora de uma vez por todas, mas não consegue. É um tudo que é demais. É muito, mas muito mesmo. E ainda que venham e observem, ninguém realmente vê. Todos julgam conhecer, mas só sabem a respeito do envoltório que guarda esse tudo. E quando esse tudo estremece, o envoltório fica fraco, e as pessoas que vêem não conseguem entender a mudança, ainda que desejem. Isso porque, mesmo que o envoltório seja fraco, ele é bom no que faz. E o que ele faz é conter. Conter o tudo que há por dentro. E assim ninguém encontra o tudo que é tanto.

Às vezes vem uns que dizem “mas eu entendo”. Claro que não entendem. Ninguém entende o tudo porque o tudo é demais. E faz parte de mim, portanto ninguém pode vê-lo completamente. Por isso é bom que não achem que me compreendem porque não, não compreendem. Eu pareço ser um livro fácil de ser lido, mas estou cheia de ironias que ninguém percebe.

E enquanto todos ignoram a complexidade de quem sou, eu me desmancho. E sou tão frágil às vezes. Tão frágil que as pessoas acham que isso é sinônimo de simplicidade. Mal sabem que o mundo por dentro é maior, maior que tudo o que já experimentaram. E quando esse mundo está em guerra, todos recebem um pouco dessa falta de paz. Porque tudo, tudo é demais - e sempre acaba escapando.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Encontro


Eu tenho necessitado de abraços. Desses que envolvem além do consistente e material. Desses que deixam o corpo menos aquecido que a alma. Desses que são mais fortes e expressivos que qualquer palavra.

Aquele abraço que é meio um encontro, indivíduos que buscam compreensão e intimidade ao incidir um pouco de si no outro. Eu quero intimidade. Dessa que pode nos estraçalhar se partilhada com a pessoa errada, mas que nos faz sentir mais vivos e reais ao exercitá-la, confidenciando nosso qualquer coisa a alguém.

E quando falo em abraço, é abraço de verdade. Não esses do protocolo social. Falo em abraço após olho no olho, palavra por palavra, sorriso com sorriso. Abraço que se dá mesmo, porque se quer dar, quer-se receber. Abraço como uma troca. De carinho, de verdade, de significância, dessa intimidade da qual tantos fogem ao afirmar seu perigo enquanto dissimulam não desejar.

Eu falo de abraço mesmo, daquele apertado, de coração cheio, pulmão abarrotado e endorfina rolando solta. Abraço abundante de quem ama e se sabe amado. Quero abraço calado, sincero, envolvente. Eu quero um encontro. Busco compreensão, intimidade. Abraço de amizade sincera ou de amor verdadeiro. Sim, sim... Tudo com muita verdade, é como eu quero.

Chegar em casa, preparar um café e dividi-lo com alguém. Passar literais horas ao telefone explorando assuntos já dantes explorados. Sorrir feito bobo com outro bobo que me sabe bobo e ainda gosta. Andar de qualquer jeito, pra qualquer lugar, com quem se dispuser.

Eu só quero abraços; que se dêem com os olhos, com as mãos, os braços, os lábios, não importa. Eu só quero abraçar, envolver, circundar, enlaçar, unir. Eu sou assim, tenho essa necessidade de trazer para perto o que me faz completo.

domingo, 20 de junho de 2010

O mistério do cinza


Eu gosto dessa sensação de chuva, desse frio que nos acolhe e encolhe e escolhe o cobertor como lugar mais atrativo. Eu gosto de olhar para o céu e ver o cinza todo misterioso, fechado, quase negando segredos.

Sento-me sob esse cinza audacioso e permito-me mais um devaneio. E mais um, e outro, e mais. O frio me recebe como a um velho amigo. Já que bons amigos confiam um no outro, libero minhas inseguranças, meus receios, meus desejos, minhas finalidades. Assim nesse silêncio intacto, nesse mistério do cinza, nessa limpeza de interior que a chuva dá e nada cobra, consinto com um emancipar-se.

Gosto disso, desses segredos a ninguém, embora a algo. Liberto o que há de mais íntimo em mim na busca da minha própria concepção. Faço dos meus pensamentos a minha própria análise e descubro o que há para se transformar.

O frio abriga meus silêncios tão tagarelas. Sento-me sob o mistério do cinza e dissipo o que há de misterioso em mim. É a sensação da chuva, do frio, que me liberta de mim mesma.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Encantar-se ao desvendar-se


Eu estou mais lá dentro do que cá fora. Não vá passando o olho e achando que sabe quem sou. Não se engane. Não me encaixo assim tão simplesmente nos estereótipos com os quais está acostumado a lidar. Eu sou de longe, de muito longe. Eu sou lá de dentro.

Esse sorriso aqui não é simpatia, camarada. Nem alegria por si só. É felicidade, pura felicidade. É a certeza de que o que trago em mim é expansivo demais para caber em pequenos espaços, pequenos sentimentos. Eu sou grande. O que trago comigo é de mesmo tamanho, maior até. Eu sou muito, com todas as pequenezas envoltas em mim. Sou muitos detalhes que formam esse panorama que você insiste em julgar. Não se apresse em me dar um desses rótulos que tanto criam por aí. Façamos o seguinte: vamos nos conhecer. Vamos nos analisando, aprendendo juntos. Depois a gente decide se um é válido pro outro.

Por enquanto, vamos tomar um sol e nos lambuzar de sorvete. Vamos dar risada daquela coisa muito sem graça que falamos ou daquele jeito esquisito com que você me olhou sexta-feira passada. Vamos fingir que nos conhecemos há muito tempo e assim nos dar espaço. Sim, vamos nos dar espaço – para surpreender, instruir, sonhar, compreender. Vamos sentar um ao lado do outro e ficar em silêncio por um tempo, ouvindo nossa respiração a zumbir em nossos pensamentos e compartilhar toda essa confiança que é se permitir não se importar com a falta de sons. Conhecidos não se aquietam calados; fiquemos calados, então, feito bons amigos. Vamos desvendar alguns segredos nossos, meio sem querer, meio querendo, para acreditarmos que tem alguém que irá guardá-los. Vamos nos encantar com nossas semelhanças e admirar nossas distinções. Vamos nos conhecendo, simples assim.

Deixemos que nossos corações vão dizendo o que a gente acha um do outro. Nada de conceitos pré-estabelecidos e toda essa racionalidade. Que possamos nos abrir de leve e, aos poucos, perceber no outro um mundo todo íntimo e diferente de tudo o que já vimos. Que tenhamos essa liberdade de visualizar o que queremos, do jeito que queremos, para sentir como quisermos e acharmos melhor. Aproximemos nossas visões e vejamos no que dá.

Se essa mágica de afinidade não acontecer, tudo bem, tudo normal. Sejamos como qualquer outro é em nossas vidas, mas antes tentemos nos descobrir. Nada de preconceitos. Tentemos nos conhecer e aprender sobre o outro, sobre nós mesmos, para só então falar com um jeitinho talvez emocionado, talvez orgulhoso: valeu a pena, amigo, valeu a estrada.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Reminiscências


Um pássaro alheou a minha atenção e mudei a linha de meus pensamentos. Vislumbrei o crepúsculo e suspirei a ausência de nuvens. Era a saudade se esvaindo de meus pulmões exaustos. Eu possuía um jeito sutil de ajeitar os cabelos, roçando os cachos rapidamente no ar; um sorriso de tirar o fôlego daquele que se apaixona perdidamente por gestos sinceros; um olhar que sensualmente exprimia anseios e confundia leitores; um toque que, qualquer um jamais percebeu, vinha cheio de sentimento, todo intenso, ainda que simples.

E, no entanto, eu me lamentava por estar ali, em plena aurora da minha vida, sentindo-me sozinha e desejando uma fuga. O que meu peito queria era estar colado ao seu. As minhas mãos gostariam de ter seus dedos acariciando-as. Enquanto caminhava pelo parque, sentia meus passos arrastados à espera de outros a seu lado. E eu vivia assim, querendo tanto ter teu lado junto ao meu, querendo estar contigo sempre comigo, querendo você.

E meus dedos passeavam pelas teclas do piano com o pesar da solidão. Eu brincava delicadamente, expondo sentimentos que ninguém jamais se dispôs a ouvir, muito menos a entender, e desabafava sinfonicamente essa falta amarga que você me fazia.

E eu dedilhava o violão, deixando libertar-se no ar um agradável grito de saudade, um chamado tanto baixo quanto berrante por alguém que não estava ali.

E eu me detinha trancada no quarto, agarrada aos papéis e canetas, desenhando palavras que expressassem centímetros de alma, tentava inutilmente espaçar-me além do corpo que me prendia.

E nesse correr dos dias, eles se passam, e a espera para ter seu olhar percebendo o meu parece nunca ter um fim. Prossigo ansiando teus braços a me envolver e teus lábios, quando não me relatando suas infinitas narrativas, a tomar-me por inteira numa entrega às vezes sucinta, às vezes vagarosa.

E o pássaro alheou a minha atenção, mudei a linha de meus pensamentos, vislumbrei o céu, suspirei a ausência das nuvens... Mas o tempo todo com você junto a mim. Porque, mesmo sem você compartilhando o lado meu, eu te tenho muito além da presença. Eu te tenho aqui, dentro desse peito abarrotado, desse coração utópico, nesse sorriso que dou sem razão - eu te tenho aqui, comigo. Eu te tenho em mim.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Plenitude


O vento sussurrava verdades em seu ouvido, mas ela se recusava a acreditar. O veneno a havia tomado inteiramente. A verdade parecia pequena, descartável, porém decisivamente presente. O que precisava não era exatamente necessário, ela apenas o queria. Infantilmente, ela o queria, e abraçava seu desejo como uma criança carente e ingênua.

A tarde seguia amendoada, explanando equívocos e derramando insuficiência na compreensão dos fatos. As árvores faziam com que a garota não se sentisse completamente sozinha, dando a ela algo com que conversar. As palavras saíam soltas, concluindo pensamentos variados que perturbavam seu coração e juízo. Ela observava as flores que brotaram no início da primavera e perguntava-se a respeito do sabor de seus perfumes, quase imperceptíveis.

Havia um transbordar de emoções naquela menina. Ela era tão delicada, e sensitiva. Podia perceber as deficiências do mundo em que vivia. Tanto precisava de mudança, tanto precisava de carinho.

- Isso se torna cada vez mais difícil – murmurou para os gravetos mais próximos, tocando-os levemente. – Há tanto para esclarecer sozinha, sabe? Gostaria de um parceiro... Não, um parceiro não. Um amigo. De verdade.

As folhas balançaram assentindo, o que dava à menina o sinal de que entendiam a sua ausência de sentido. Talvez não seja assim tão absurdo não fazer sentido, pensou consigo mesma. E suspirou. Um suspiro carregado de cansaço e desejos embutidos.

Um aperto no peito fez surgir a primeira lágrima. Não fazer sentido poderia não ser absurdo, mas era significativamente doloroso. Agora que era capaz de ver coisas que não fora antes... Parecia inevitável permanecer de olhos abertos. A realidade a atingia de todas as formas, até as mais cruéis. A verdade a golpeava violentamente, fazia com que se sentisse perdida, desorientada.

- Não faz sentido, é verdade. Mas se alguém estivesse comigo, compartilhando esta ausência de significado, ou mesmo o excesso desse... Você me entende, não é? Nunca tive afinidade com matemática, mas dois parece um bom número para mim.

Sorriu abertamente e de olhos fechados, deixando sua mente vagar no imaginário, lágrimas se misturando à sua saliva. Disseram-lhe que lágrimas eram salgadas... Pois as suas não, eram doces. Saboreava a leve angústia das lágrimas, ainda de olhos fechados, ainda em seu mundo aéreo.

Ela estava certa, depois de tanto tempo, de que havia algo infinitamente prazeroso em seu mundo. A fantasia lhe deixava menos inquieta, mais esperançosa. E por isso permitia-se imaginar, aceitava ter um pouco de esperança. Não lhe faria muito mal.

- Sabe que eu andei pensando esses dias... Algumas coisas, mesmo que implícitas, têm valor imenso. – O seu jeito sapeca de se expressar, sorrindo meigamente, combinava com a brisa leve que brincava com seus cabelos. – Um bom dia, um sorriso, um abraço, um beijo... Gosto de coisas que possuem valores implícitos. São tão mais preciosas, não acha?

O ar bagunçava a copa das árvores, anunciava a mudança de tempo. A menina não se importava que pudesse chover, não sentia vontade de voltar para casa agora. Sentia que deveria ficar – ela queria ficar -, e conversar com a natureza, que lhe entenderia melhor que os outros humanos.

- Às vezes, quando estou sozinha, eu me perco em meus próprios pensamentos, como agora, e me faço perguntas que não sou capaz de responder. Muitas delas são sobre esse meu amigo... Que nunca chega. Será que ele sabe que está atrasado?

Outro suspiro escapou de seus pulmões, junto com um sorriso acanhado.

- Acho que não sou um bom exemplo, não é? Estou sempre me atrasando! Mas eu queria que ele viesse logo... Eu me sinto tão sozinha. Sozinha para entender tudo e aceitar tudo como entendo.

Era uma garotinha confusa, cheia de compreensões com as quais lidar. O que pode fazê-lo perguntar-se se é mesmo necessário compreender tanto. Às vezes saber demais não é exatamente confortável, mas incômodo. Entender! Quão difícil é entender!

- Quão difícil é entender! – prostrou-se indignada. – Se eu ao menos soubesse que não estou sozinha nesse mar de incoerência... Se eu pudesse encontrar um valor implícito que me fosse amigo, parceiro, amável... Quero valores implícitos...

Nesse momento já chorava livremente. Não conseguia mais conter a responsabilidade de ver claramente, então deixou-a libertar-se suavemente e desmanchar-se ao percorrer sua pele. Era a dor de não sentir esperança, ou de tê-la em demasiado.

Ela era um ser exorbitante que precisava de alguém para receber o seu excesso. De amor, de vida, de compreensão. A ternura pulsava ali dentro, a afeição que precisava trocar. Ela era cheia, repleta, intensa. Aberta ao mundo e às ideias. Ela compreendia e se sobrecarregava com o saber.

Ela era um sorriso gratuito, um carinho que se recebe sem solicitação. Ela era meio fantasiosa, meio realista. Era doce, frágil e poderosa. Ela era e se engraçava por ser.

Ela era e chorava, não por ser, mas por estar, mais uma vez, sem ninguém. Porque ela era tanto, mas tanto, que precisava de alguém a quem ceder o seu muito.

A boca da noite chegava engolindo-a e levando-a para o escuro acolhedor. As lágrimas estavam chegando ao fim, já voltava à conformação de sempre, da espera. Uma voz suave tocou os seus ouvidos, despertando seus sentidos e coração:

- Posso te ajudar, menina?

Ele se aproximou, sorriu, chegou.