quinta-feira, 6 de maio de 2010

Encantar-se ao desvendar-se


Eu estou mais lá dentro do que cá fora. Não vá passando o olho e achando que sabe quem sou. Não se engane. Não me encaixo assim tão simplesmente nos estereótipos com os quais está acostumado a lidar. Eu sou de longe, de muito longe. Eu sou lá de dentro.

Esse sorriso aqui não é simpatia, camarada. Nem alegria por si só. É felicidade, pura felicidade. É a certeza de que o que trago em mim é expansivo demais para caber em pequenos espaços, pequenos sentimentos. Eu sou grande. O que trago comigo é de mesmo tamanho, maior até. Eu sou muito, com todas as pequenezas envoltas em mim. Sou muitos detalhes que formam esse panorama que você insiste em julgar. Não se apresse em me dar um desses rótulos que tanto criam por aí. Façamos o seguinte: vamos nos conhecer. Vamos nos analisando, aprendendo juntos. Depois a gente decide se um é válido pro outro.

Por enquanto, vamos tomar um sol e nos lambuzar de sorvete. Vamos dar risada daquela coisa muito sem graça que falamos ou daquele jeito esquisito com que você me olhou sexta-feira passada. Vamos fingir que nos conhecemos há muito tempo e assim nos dar espaço. Sim, vamos nos dar espaço – para surpreender, instruir, sonhar, compreender. Vamos sentar um ao lado do outro e ficar em silêncio por um tempo, ouvindo nossa respiração a zumbir em nossos pensamentos e compartilhar toda essa confiança que é se permitir não se importar com a falta de sons. Conhecidos não se aquietam calados; fiquemos calados, então, feito bons amigos. Vamos desvendar alguns segredos nossos, meio sem querer, meio querendo, para acreditarmos que tem alguém que irá guardá-los. Vamos nos encantar com nossas semelhanças e admirar nossas distinções. Vamos nos conhecendo, simples assim.

Deixemos que nossos corações vão dizendo o que a gente acha um do outro. Nada de conceitos pré-estabelecidos e toda essa racionalidade. Que possamos nos abrir de leve e, aos poucos, perceber no outro um mundo todo íntimo e diferente de tudo o que já vimos. Que tenhamos essa liberdade de visualizar o que queremos, do jeito que queremos, para sentir como quisermos e acharmos melhor. Aproximemos nossas visões e vejamos no que dá.

Se essa mágica de afinidade não acontecer, tudo bem, tudo normal. Sejamos como qualquer outro é em nossas vidas, mas antes tentemos nos descobrir. Nada de preconceitos. Tentemos nos conhecer e aprender sobre o outro, sobre nós mesmos, para só então falar com um jeitinho talvez emocionado, talvez orgulhoso: valeu a pena, amigo, valeu a estrada.