sexta-feira, 30 de maio de 2008

Frases Inacabadas, Felicidades Interrompidas

Era uma noite fria e levemente nublada, seus cabelos longos e loiros esvoaçavam com o vento, enquanto seguia com passos lentos e curtos, em direção à sua casa. Tinha um ar de decepção no seu rosto que qualquer um, até mesmo os menos observadores, notaria. Porém ninguém havia para notá-la. A rua estava absolutamente deserta, ouvia-se apenas o farfalhar das folhas dependuradas das árvores.

Sentindo que não aguentaria chegar ao seu destino, sentou-se sob uma árvore e depôs-se a pensar em toda a sua vida. Lembrou-se de como seu pai a deixou de maneira tão trágica, e como a sua mãe ignorava o fato de sua existência diariamente quando levantava-se e ganhava o mundo, voltando para casa altas horas da madrugada.

Ficou imaginando como seria sua vida se seu pai ainda estivesse ali, acolhendo-a. Mostrando-a como a vida poderia ser bela se a tornássemos. Recitando-lhe lindos versos de seus poetas mais apreciados, que carregavam ótimas lições. Ou quem sabe até caminhando junto com o seu vazio, e tentando preenche-lo.

Ele havia ido embora. Ele e o único homem da sua vida. Um para sempre, outro para nunca mais. Um a abandonou sem querer, outro a deixara sem razão. Acabara de dizer que ainda a amava, mas que porém tinha desejos diferentes dos seus. Mentira. Se a amasse, não a deixaria assim, acabando-se por si mesma, sozinha e sem consolo.

Tornou a lembrar-se do pai. Quanto tempo havia que tinha ido? Uns três anos? Mas o cheiro de tabaco que continha em si constantemente ainda penetrava suas narinas, assim como o desejo de ter aqueles abraços fortes e confortantes envoltos de seu pescoço continuava a invadi-la. Gostaria de só mais uma vez conversar com seu pai, ter um momento feliz onde ele a ensinaria como enfrentar situações como essa. Gostaria de estar com o seu pai naquele momento, para que ele enfim a pudesse fazer sorrir, como só ele conseguia.

Ali, recostada na árvore, permaneceu, e fechou seus olhos, como se isso pudesse amenizar seu desejo tão imediato e torturante.

Ela estava sentada na grama verde-escura observando as cores das flores quando um senhor de idade vestindo uma jaqueta de jeans preto sentou-se ao seu lado e pediu-lhe para acender um cigarro.

- Poderia? – disse-lhe, estendendo o cigarro.

- Claro – respondeu, sorrindo. – Aqui está.

- Desculpe incomodar, é que eu sempre me atrapalho com esses isqueiros – retrucou, dando uma gargalhada rouca.

Ela não podia acreditar. Conhecia alguém que também odiava isqueiros. Alguém com aquela mesma gargalhada rouca, e que usava uma jaqueta de jeans preto exatamente como aquela.

- Pai? – perguntou, com toda certeza da resposta, só por perguntar, esboçando um enorme e repentino sorriso. – Ah pai, você veio!

- Achava mesmo que alguma vez eu te deixaria na mão? – indagou, ao mesmo tempo que respondia ao abraço que a garota lhe despejava. – Minha querida, o que está acontecendo, hein?

- Pai, ele... – não terminara a frase, fora interrompida pelo próprio pai, que agora dava outra gargalhada rouca.

- Mas o que eu estou dizendo? Claro que eu sei o que aconteceu! Ah, minha querida, eu sinto muito mesmo. Sabe, eu conheço aquele rapaz. Ele realmente te ama. Vai voltar.

- Eu acho que não, pai – as lágrimas amontoaram-se em seus olhos, prontas para sair.

- Opa, nada de chorar! Estou com você, não é? Vamos lá, cante para mim.

- Pai! Eu não vou cantar.

- Como é que é? Vai desobedecer ao seu pai? Vamos, cante!

- Qual é, pai? Eu não canto há anos, desde que você se foi e...

- Quem disse que eu me fui? Ora, que conversa maluca. Se eu tivesse ido, não estaria conversando com você, não é mesmo? Agora deixe de enrolar e comece a cantar.

Após uma pausa, percebeu que não tinha nada a perder cantando para o seu pai. Era tudo o que ela queria. Estar ali com ele, e ainda fazendo a coisa que mais gostava.

- Manhã de sol, e nada mais a fazer... além de contemplar você... sorrir enquanto observo... teu belo rosto durante o sono...

- E sinto que nada mais...

- Me faria tão feliz... se não um beijo teu...

- CALE MEUS DESEJOS, OH QUERIDA!

Os dois gargalharam.

- Pai, gostaria de te repetir uma coisa.

- À vontade, OH QUERIDA!

- Sabe, você não é um bom compositor.

- Sabemos, filha, sabemos – sorriram, mais uma vez.

Passado um momento, a filha notou que o sol já começava a se pôr.

- Pai, preciso te perguntar uma coisa.

- O que quiser, meu amor.

- Se você não se foi, se está aqui... Quero dizer... Como sabia o que estava acontecendo? Como que... como que você não se foi?

- Depende do que é ir para você – soltou essa, e permaneceu em silêncio. A garota não parecia querer falar, então o pai tomou a palavra. – Você ainda não entendeu? Eu posso ter ido, mas não fui para você. Tudo isso que está acontecendo agora, está acontecendo apenas para você. Eu estou no seu coração, portanto não fui embora e sei o que você está sentindo.

- Obrigada, pai. Por permanecer em mim.

- Eu que agradeço, filha. Se você não quisesse, eu não permaneceria.

Ao sentir algo lhe envolvendo, a garota despertou do sonho que acabara de presenciar. E ao abrir seus olhos, viu a ele.

- O que está fazendo aqui? – disse, levantando-se do chão da árvore, disfarçando as lágrimas e o cochilo que acabara de ter, deixando que o casaco que acabara de ser colocado sobre ela caísse.

- Você está mesmo perguntando isso? Não achava mesmo que eu te deixaria ir embora, achava? – perguntou o rapaz louro e alto, de fisionomia atraente.

- Eu... você que me mandou embora!

- Não te mandei embora! Longe de mim.

- E o que quis dizer com ‘algo vai mudar definitivamente para nós dois, desejamos coisas avessas e precisamos parar para pensar direito’.

- Eu quis dizer que quero me casar com você. Quero viver toda a minha vida ao seu lado, e isso significa responsabilidade. Mesmo que você não aceite, eu te quero e não vou te deixar ir – disse à garota, enquanto acariciava seu rosto pálido e assustado.

- C-c-como assim? Você disse... você disse... casar? Quer casar comigo?

- Imediatamente, se possível.

Ela esbanjou um sorriso de orelha a orelha e pulou nos braços daquele que a amava, cujo coração lhe pertencia. Agora ela tinha dois corações. O seu próprio, e o de seu amado. Mas havia uma coisa apenas que gostaria de fazer.

- Vem comigo? – disse ao rapaz, ainda sorrindo.

- Se for com você, vou a qualquer lugar.

- Mesmo um cemitério?

- Até à lua.

Segurando-o pelo braço, foi correndo em direção a uma rua larga e cheia de buracos. Faltava calçamento, porém ela não parecia se preocupar com as quedas que ocorreriam até o seu local desejado. Estava com ele. E nada poderia lhe impedir.

Viraram à direita duas vezes e enfim seguiram em frente. Ao avistar o cemitério, correu como se tivesse pressa.

Logo já estavam em frente ao local onde seu pai fora sepultado. Virou-se para o rapaz, e disse:

- E então, trouxe as alianças? – sorrindo.

- Claro, mas... você tem certeza que quer aqui? – respondeu o rapaz, fazendo uma pergunta que viria mais cedo ou mais tarde.

- Absoluta – e selou-lhe rapidamente os lábios. – Ele precisa presenciar. Ele mais que qualquer um.

- Muito bem, então, amor – sorriu, estendendo-lhe a aliança dourada e levemente brilhante. – Aceita casar-se comigo, senhora? Prometo amá-la todos os dias da minha vida, que nem a morte nos separe.

- Aceito – e ao dizer esta única palavra, seus olhos foram preenchidos por lágrimas que insistiam em permanecer presas. – Mas e você, caro senhor... – soltaram risos, quando as lágrimas finalmente caíram – aceitaria casar-se com essa pobre moça? Prometo-lhe te amar eternamente, independente de tudo, até mesmo da morte.

- Seria louco se dissesse que não.

Entrelaçaram os dedos agora com alianças, olharam um nos olhos do outro e aproximaram seus rostos, mais perto um do outro a cada segundo. Seus lábios se tocaram demoradamente. E por mais estranho que pareça, ali permaneceram por quase uma hora, no meio da noite em um cemitério, em frente ao sepulcro do falecido pai da garota. Mas eles se amaram como jamais se houve conhecimento.

sábado, 17 de maio de 2008

Valsa Eterna


Conheço muitos conceitos sobre a saudade, mas nenhum melhor do que o que sinto agora. E, francamente, não é fácil. Sei que triste mesmo é a saudade que nunca acaba, daquele alguém que se foi para sempre, que jamais voltará. Mas que posso fazer se essa dor me invade de tal maneira que mal posso ignorá-la?

O tempo está passando, e as coisas estão acontecendo. É tão rápido. Tão devagar. Sinto cada vez mais os meus planos se afastarem do meu horizonte. Que será que estou fazendo de errado?
Olho para você e nada mais enxergo. E mesmo sem olhar para você, nada mais enxergo. Isso pode me levar a sofrer, mas eu não posso evitar. Sinto vontade de você.
E o tempo continua passando. E eu continuo querendo você. E meus planos continuam fugindo. Responda-me apenas uma coisa: você também sente o mesmo? Sua vontade é a mesma? Você também quer a mim?
Porque se assim for, meus planos talvez funcionem. E eu talvez possa sentir um pouco menos a tua falta. Poderias responder logo? Sabe, tenho pressa.
O relógio não pára com seu tic-tac e eu não paro com meus pensamentos. Os meus desejos estão sempre aqui, muito fortes. Não posso esperar.
Queria que você fosse meu, se já não é. E se for, queria que fosse mais meu. Só meu.
Ignorar completamente tudo o que não podemos ignorar. Esconder de vez tudo o que não podemos esconder. E mostrar tudo o que ainda não mostramos. Sim, eu quero isso. O que você me diz?
Vamos lá, a hora está passando. A saudade está aumentando. Mas o telefone não está tocando, você não está me ligando. Nem uma mensagem. Nenhum sinal. Lembras de mim?
Ó como temo por tua resposta. Ó como espero por ela. Venha rápido, não posso esperar sempre.
Meu coração está tão apertado, tão machucado. Porque a saudade o aperta, a saudade o machuca. E você está ajudando-a. Pare com isso. Não está vendo que não gosto?
Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Isso está irritando. Relógio, poderias te calar? Obrigada.
Minha cama está desarrumada. Não, não consigo parar de me remexer sobre a mesma. E os meus papéis estão todos jogados no chão, há apenas alguns ao meu lado. Junto ao meu porta-retrato. O nosso porta-retrato. O nosso passado.
Veja, poderemos ter um futuro. Você quer? Diga-me: é isso o que você quer? Compartilhar o seu futuro comigo? Eu posso fazer dele uma eterna brincadeira, uma eterna valsa, uma eterna infância. Basta apenas que me respondas se é isso o que você quer.
Viver eternamente ao meu lado. Dançando nossa própria valsa, nossa própria música, nosso próprio amor e nossa própria juventude.
Não terei vergonha. Não terás manchas vermelhas na pele. Teremos apenas o amor, ele sim será vermelho, ele sim terá vergonha.
Nosso salão será prateado, coberto de pétalas de rosas. Todas cor-de-rosa, ou quase. Haverá algumas vermelhas, destacadas. E nossos pés estarão sempre sobre elas. Dançando. Bailando. De um lado a outro. Do outro a um lado.
Parece-me uma boa idéia que tenha algumas pessoas nos assistindo. Assim não estaremos sozinhos. Teremos platéia.
E a saudade não apertará. Mas o tempo continuará a passar. Passar como nossos passos.
Meu cabelo continuará preso, sob uma coroa de flores. E o seu terno preto continuará pequenino. Que tal parece a idéia para ti?
Se tiveres gostado, podemos torná-la realidade. Uma valsa eterna. Uma valsa romântica. Nossa eterna valsa romântica. Entrarás nessa aventura?