quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O que há por dentro

Era lá dentro. E apertava e a fazia encolher-se toda de tanto que era encolhido o dentro. Tornava-se pequeno e doía, porque lhe faltava espaço. Buscava um porto de chegada, um lugar onde pudesse se encontrar ou - e talvez isso descreva melhor - onde pudessem encontrá-la, onde pudessem tê-la no colo e oferecer-lhe carinho, companhia e palavras. Buscava onde pudesse despejar seu interior, o dentro que se encolhia bem apertado. Mas por todo lugar que procurava, não via. Havia só o que sempre esteve lá, mas não lhe era estendida uma mão, não lhe era roubado um abraço, não buscavam suas perguntas nem lhe supunham respostas. Havia apenas o que sempre estivera lá, agora um tanto empoeirado e sem trato. E era disso que precisava. De um trato, de um cuidado morno que lhe oferecesse paz e segurança, qualquer coisa assim capaz de curar um interior ferido e confuso.

Pareceria desesperado demais gritar “Precisa-se de atenção”? Soaria inseguro demais declarar “Estou perdida”? Seria duro demais dizer a si mesma “Você está sozinha”? Porque, por mais que as respostas lhe faltassem, deveria haver alguém para partilhar sua falta de senso. Alguém disposto a recolher seus medos e joguinhos mentais, amassá-los com força e mantê-los o mais distante possível, pelo máximo de tempo que pudesse. Por se importar, apenas. Por querer seu bem.

Mas o que estava lá dentro encontrava-se machucado e também havia nela essa necessidade de curar suas feridas todas para que se pusesse capaz de se machucar novamente. Novas cicatrizes, talvez - mas nem ela sabia. Nem ela saberia dizer o que estava se passando ao seu redor pois estava muito concentrada em capturar uma imagem qualquer de segurança, de preocupação, um sinal de companhia, não qualquer coisa assim meio como amar, mas o amor em si. Ela só queria um alguém que desejasse o seu lado pelo máximo de tempo em sua vida, não quem se sentisse comprometido com ele. Seria capaz de encontrar algo assim ali, ao seu redor, que sempre esteve tão fechado e indisposto a novos inquilinos? Isso seria se arrepender: perceber que impediu a verdade de entrar e então desejar que ela venha?

Nada sabia. Mas sabia que queria encontro. Que queria respostas. Que queria companhia, que queria palavras e que queria alguém. Sabia o que queria. Mas sabia que querer, nem na mais remota possibilidade, significa o dever de possuir o que se deseja. Sabia disso, sempre soube. Nunca aceitou.

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