sábado, 16 de abril de 2011

Sonha, Carolina


Seu nome era Carolina. Sorria alegrias e tristezas, abraçava o mundo com destreza, e seus olhos profundos e misteriosos guardavam a dor do mundo todo. Carolina amava, e chorava o amor que não mais aparecia na janela para contemplar seus cachos, despertar-lhe suspiros, florescendo aquele sentimento que ninguém explica muito bem.

Passeava sozinha pelas ruas, à procura de um caminho que a fizesse ser um pouco mais ela mesma, um caminho que lhe entregasse à compreensão e a fizesse perceber as respostas que tanto procurava. Carolina era amor, uma estrela que se erguia buscando emitir luz.

Seus amigos não compreendiam sua profundeza e intensidade. De tanto que Carolina era, ninguém parecia entender o que era ser Carolina. Todos procuravam tirá-la de seus sonhos, capturá-la para o mundo de todos, mas ela só queria seu próprio mundo.

 - Carolina, volte à realidade, menina, deixe de suas ilusões, corre atrás de viver.

O que as pessoas não entendiam é que Carolina tinha sua maneira toda singular de viver, e era essa: seus sonhos eram sua vida. Ao debruçar-se na janela, o mundo que criava era a vida que desfrutava. Tudo observava, menos as obviedades às quais todos se prendiam.

Ah, Carolina, se metade de teus sonhos fossem realidade, como seria tua vida? Ela não sabia, nem queria saber. Às vezes sentia algo assim que lhe dizia: "Sonha, menina, que é nos teus sonhos que podes ser feliz. Realidade é chato, e uma vez realidade, a satisfação de sonhar se desfaz. Sonha, menina, que a vida é mais completa quando se sonha".

Tudo morria, tudo se desfazia... e Carolina em seus sonhos ainda vivia.

Mas sonhos também terminam. Sonhos também não são, apesar de serem. E mesmo que Carolina se abrigasse em sua farsa encantada, a realidade chama. A realidade pede, exige. Embora se recusasse a comparecer, todos sabiam e a alertavam:

- Carolina, menina ingênua, um dia a realidade há de te pegar de jeito, e sem jeito tu ficarás. Acorda, menina, acorda!

Mas Carolina nada ouvia. Apoiava-se na janela, jogava os cachos pro lado e suspirava, ignorando o peso do tempo que passa e logo ressurge em arrependimento. Ah, Carolina, quando teus olhos finalmente abrirem, tua vida terá passado e o tecido áspero daquilo que deixastes de fazer arranhará sem dó tua pele e sem sorriso e encanto teus olhos profundos e misteriosos pesarão.

Como era doloroso o que estava por vir! E todos notaram, só Carolina não viu.

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