terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Solitude


A sala estava vazia, exceto pela pequena e doce garotinha sentada no canto. Ela não entendia o mundo, por isso chorava desesperada, procurando respostas para perguntas não-formuladas. Só o que podia sentir era o cheiro de hortelã vindo do lado de fora da porta.
Era um cheiro agradável e atraente. Talvez ela pudesse verificar o que havia por trás daquela porta marrom, com traços antigos e escuros, porém o medo estava ao seu lado. E se encontrasse algo ruim para si? Se houvesse terror por trás daquela porta?
As respostas não vinham. A luz também não. A única brecha de claridade estava distante, no teto acima da porta.
A amável menina agarrou o urso de pelúcia que trazia consigo, deixando cair do pescoço peludo dele o laço cor-de-rosa. Olhou fixamente o laço caído ao chão e soltou o urso, ao mesmo tempo que puxava o laço para perto de seus olhos, analisando seu nó. Talvez o mundo fosse um laço, pensou consigo mesma.
Tão enrolado, porém bem trançado. Confuso. Bonito.
Desatou o nó, na tentativa de desvendar os mistérios do mundo, da vida. Evidentemente não descobriu nada. Não chorava mais, entretanto seus olhos ainda cintilavam as lágrimas derramadas.
Deitou-se encolhida. Sentiu frio, e desejou ter um cobertor próximo ali. Mas a garotinha não o procuraria, havia medo sobre ela. Medo do que mais pudesse haver naquele quartinho escuro.
Logo ela desejou novamente saber o que havia por trás daquela porta. O que havia lá que a fazia ter medo? Ela não sabia, e tinha medo de saber.
Sem perceber, suas mãos se movimentaram. Tocaram sua própria face como se fosse a de um desconhecido. Será que ela mesmo teria se trancado ali ou o mundo a expulsou dele?, pensava consigo.
De súbito, sentou-se. Olhou ao redor, tentando enxergar algo. Agora, o quarto parecia um pouco mais claro, não o suficiente para deixa-la enxergar completamente, sem dúvida alguma.
Fechou os olhos levemente, seu queixo quase tocando o busto. Abriu as mãos e se abraçou fortemente, esperando sentir algo especial. Sorriu, pela primeira vez em muito tempo.
Sua risada ecoou pelo quartinho vazio e sem luz, fazendo-a parar assustada. Quem está aí?, perguntou em voz alta. Ouviu as suas próprias palavras soarem mais algumas vezes. Sentiu-se aterrorizada novamente, pensou no mundo.
Em algum momento ela saberia que mistério havia atrás da porta? Em algum momento lhe mostrariam os segredos da vida? Quais eram esses segredos? Quem os tinha? Por quê tudo vazio?
De repente a resposta para uma de suas perguntas veio à sua cabeça. Ela não descobriria nada se não atravessasse aquela porta. Ela não saberia os segredos que a esperavam do outro lado. Não mataria sua curiosidade se não espantasse o medo. Jamais seria respondida se não buscasse de fato saber as respostas.
Ficou de pé. Ao tentar ir em direção à porta, cambaleou e caiu. Chorou, sentiu suas esperanças se esvaindo. Começou a soluçar, sentindo-se um fracasso, achando-se uma inútil, incapaz. Suas lágrimas cessaram no instante em que o cheirinho de hortelã veio com mais força. Ouviu um barulho mais parecido com melodia.
Sorriu. Dessa vez não teve medo quando sua própria risada ecoou pelo quarto. Agora ele parecia evidentemente mais claro.
Ela caiu, mas e daí? Poderia se levantar, não poderia?
Agora sua vontade de atravessar a porta e descobrir de onde vinha aquele delicioso aroma e a sinfonia melodiosa era muito maior, muito incontrolável.
Levantou, ainda sorrindo. Caminhou até próximo da porta. Quando seus dedos encostaram no trinco da porta, seu coração acelerou. Giraram devagar. Finalmente. Finalmente saberia de tudo. Finalmente suas dúvidas seriam esclarecidas.
Abriu a porta muito lentamente. Uma forte luz veio rapidamente. Seus olhos brilharam, seu sorriso ainda mais abertamente irradiava, seu coração disparado.
Era ali o seu lugar. Era ali a sua felicidade. Era ali o fim do mistério que lhe atormentara tão profundamente. Era ali. O lugar. As respostas.
A luz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem que a menina encontrou a luz,pq imaginem se ela não teria encontrado a luz?o que seria ela um pobre garotinha caindo no mundo das trevas sem ninguem para poder a ajudar a encontra a luz, então ela foi mais forte e conseguiu abri a porta e conheçer a luz.

A.J. Megoz disse...

Escribir no es algo complicado y de eso me he dado cuenta. Escribir no es sólo un método... escribir es una pasión. Aquellos que saben reflejar su pasión en las palabras son quienes hacen de las letras no sólo un medio de dar a conocer historias: Expresan ideas, reflejan sentimientos, crean un mundo mejor...

En tus letras veo una pasión. Una manera de ver el mundo desde aquel punto que estoy esperando encontrar. No obstante estoy en ese proceso y, aunque frente a tí me he dado cuenta de que quizá aun no sé escribir, pude conocer el camino para llegar a aquel lugar en donde podré mostrarle al mundo lo que quiero ofrecer: mi pasión.