Estaciono. Em algum lugar, estaciono. Entre a transitividade da vida, e para além do que sei, aqui me encontro - e, de algum modo, estaciono.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Luscofusco
Era algo em seus olhos. Nunca saberei explicar. Eu apenas aceitava os convites que me faziam, inevitavelmente. Alguma candura, alguma amargura. Certa simplicidade. O que eu sei é que era algo em seus olhos, não saberia explicar.
- Está ficando tarde, não acha? – era um tom debochado, pude sentir.
Observei os seus olhos se erguerem à calmaria do céu daquela noite.
- Eu não acho nada. Você que me trouxe aqui.
Ele riu. Eu não vi graça alguma.
- Você é tão medrosa!
- Não estou com medo. A propósito, já acampei algumas vezes.
Ele riu mais uma vez, largando a lamparina à direita da barraca e se voltando para mim. Dessa vez estava mesmo debochando, não há dúvidas. Mas seus olhos estavam cálidos, o mel que sempre havia neles pareceu derreter a minha irritação. Então ele os aproximou sufocantemente dos meus, ainda com um sorriso leve à mostra.
- Não estou falando disso – e deslizou seus dedos minuciosamente dos meus ombros ao meu pulso, segurou-o com leveza e ergueu a minha mão, notavelmente perdido mais além da maciez da minha pele.
Eu estava assustada. Não sabia como frear o meu coração dentro do peito. Suas feições se suavizaram, os olhos que mexiam comigo alternavam entre o fechar-se e o abrir-se, talvez se decidindo a respeito de como seria mais agradável, enquanto ele se entretinha explorando a delicadeza da minha mão, beijando meus dedos, devagar, um por um. Elevou seu olhar crepuscular em minha direção novamente e, ao se aproximar um pouco mais, sussurrou:
- Estou falando disso.
E, sem me deixar pensar muito mais a respeito, tomou meus lábios em uma doçura de entrega. Ele passeava pela minha nuca, descia por minha coluna e me trazia para si. Acendeu-me, incendiou-me. E deixei-me pegar fogo.
Deixei-me ser entregue, deixei-me ser possuída. Deixei que brincasse comigo e balançasse meu controle. Apenas deixei-me lá, irracionalmente à mercê.
Era algo em seus olhos. Algo na maneira como me olhavam, sorriam e me refletiam; na alegria quando me buscavam; no sorriso quando me detinham. Eram seus olhos, havia algo ali. Algo nos seus olhos... Nunca saberei explicar.
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3 comentários:
Eu já percebi sua maneira do escrever uma situação... É uma questão que você desenvolve em muitas e diferentes modos ao longo dos seus escritos... Mais são bons e tem um estilo próprio... De onde é que você faz isso? Da suas experiências? E só uma pergunta, já que você sabe escrever o tema de uma ótima maneira...
Alguma vez você já pensou em escrever um livro? Eu compraria um dos seus ^^
Parabéns!
Você viu o mensagem excluído? jejeje que falha!
Depois do erro, posso dizer que o que você escreve é bom! Um livro é uma coisa que leva tempo e dedicaçao, mas é uma boa idéia, nao acha? Sei porque é o que eu quero fazer na minha vida... como eu disse, leva tempo e muito aprendizagem... a minha intensão é aprender, e seus escritos tem muito que ensinar ^^......
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