- Pula?
Segurou firme sua mão, apertou-a.
- Chega mais perto de mim, vai. Me abraça.
- Eu não sei, eu não entendo.
Segurou firme sua mão, apertou-a.
- Chega mais perto de mim, vai. Me abraça.
- Eu não sei, eu não entendo.
- Pula comigo.
- Vai doer.
- Mas vai valer.
Olhou bem fundo nos outros olhos, apertados.
- Valer o quê?
- Não sei. Sei que vale, vale sim. Vale a pena. Vale a dor. Confia em mim, vai valer. Tem valor.
- Você se joga assim, sem saber o que tem lá embaixo.
Arrepio que a imaginação provoca, encolhe-se pelo que desperta.
- Por que está de olhos fechados?
- Não quero ver.
- Tudo bem. Mas depois que você abrir, não tem mais volta, viu?
- Tenho medo.
Suspiraram.
- Eu sei. Eu tenho também.
- Você não tem medo.
- Tenho sim, tenho mais que você. Mas eu quero. Você vai pular comigo?
- Vamos continuar sentados um pouco. Pode ser?
- Um pouco.
Cheiro de brisa morna que não aquece o frio de dentro. Será que tinha sorriso? Será que tinha dor? Alegria, medo, saudade, carinho? Tinha ciúme? Tinha indecisão? Certeza? E esperança? Tinha futuro? Tinha o quê? Era fundo. Fundo demais, nem se via um fim. O medo sempre vem quando não se enxerga o fim.
- Não tem estrelas no céu.
- Você acha que se a gente mergulhar, encontra?
- Só dá pra saber se tentar.
- Para.
- Parar o quê?
- Tá me pressionando, quer fazer com que eu pule.
- Eu quero que você pule. Mas você só vem se quiser.
- Eu disse, tenho medo. Aquele medo do fim chegar de repente, pegar de surpresa e de jeito, deixar meio sem chão, meio sem ar.
Brisa morna que não aquece, que resfria o pensamento, que prende a respiração.
- Mas eu acho que vou.
- Eu vou continuar segurando sua mão. Se você tiver certeza que vai, de olhos abertos, peito estufado, a gente pula.
Houve um silêncio.
- Eu te amo.
E seus olhos enfim abertos encararam os cantos dos lábios do sorriso do outro.
- Eu sei. Eu também te amo. Estou aqui.
O medo hesita, o sentimento mergulha.
- Eu estou pronto.
- Eu estou aqui com você. Quer mesmo?
- Você está comigo. Eu quero.
Procuravam fôlego. Agora era pra valer.
- Eu quero pular olhando pra você.
- Eu te olho também.
- Segura firme de verdade.
Houve aquele respirar fundo de quem reúne coragem para se entregar. E houve entrega. Houve mergulho. Mergulharam, quase sem fôlego, encarando um ao outro em sua entrega. Ao redor, parecia nada haver. O mundo era o mergulho neste mundo que se apresentava ali, à frente, no mais profundo do olho do outro. Pularam sem pensar no fim, ignorando o medo da surpresa de sua chegada, na vã esperança de que nunca viesse. Pularam. Pra valer. Porque tinha valor. Nada mais.
- Vai ficar comigo?
- Até o fim.
Um comentário:
Mille, tinha quase esquecido de como você era boa com palavras, tanto tempo havia que não te lia. Mas você é fantástica.
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