domingo, 7 de abril de 2013

Da raiz submersa à beleza dos frutos

Enredado na melodia, sucumbiu. Uma espécie de entrega ao cigarro que não tragava. Fitava-o, apenas. Numa sutileza de aforismos, arrancou-se de si mesmo e encarou a ponta que queimava bonita, reduzindo o papel e o tabaco às cinzas; desfeitos, eram quase nada. Ele era quase nada. Sentiu-se pequeno frente à imensidão de desejos, e quereres, e deveres, e sentidos, e significâncias. Emergiu um breu, calado, sutil.

Na parede mofada, as fantasias todas; os silêncios todos, gritando. A solidão era de uma beleza sem fim, tanto que lhe encarava e lhe apontava as alegrias todas com uma irreverência dos mais livres, dos que se doem de tão entregues a tudo e quase nada. Sorria-lhe debochada, a parede, cheia de vivências pretéritas, também das vivências que, prestes a acontecer, surrupiavam de leve sua tranquilidade.

Decerto havia o que lhe cegava, o que lhe calava, o que lhe tapava os ouvidos e tantas vezes sua própria respiração, mas no tato era capaz de desvendar em si os segredos por ora irreveláveis desta ausência de verdades. Era sutil entregar-se a si mesmo; ainda assim era intenso encontrar-se em sua própria perdição.

E era mesmo no silêncio que se realizava o encontro em que se perdia. No silêncio realizava-se, vivia a si mesmo como a uma experiência espiritual de marcas irreversíveis. Acreditava em sua própria beleza silenciada pela fumaça agora dispersa pelo cômodo. Havia sim um comprometimento com a sua própria imagem, mas na verdade ainda alcançava a coisa em si, como numa dança descoordenada de passos mal ensaiados que enriqueciam o espetáculo. Era beleza, era ternura, era verdade, alcance, entrega. Mas se via como era e era esta sua suficiência. E foi aí que descobriu, afinal:


Trancar-se em si mesmo era de uma liberdade sem tamanho.

Nenhum comentário: