Enredado na
melodia, sucumbiu. Uma espécie de entrega ao cigarro que não tragava. Fitava-o,
apenas. Numa sutileza de aforismos, arrancou-se de si mesmo e encarou a ponta que
queimava bonita, reduzindo o papel e o tabaco às cinzas; desfeitos, eram quase
nada. Ele era quase nada. Sentiu-se pequeno frente à imensidão de desejos, e
quereres, e deveres, e sentidos, e significâncias. Emergiu um breu, calado,
sutil.
Na parede
mofada, as fantasias todas; os silêncios todos, gritando. A solidão era de uma
beleza sem fim, tanto que lhe encarava e lhe apontava as alegrias todas com uma
irreverência dos mais livres, dos que se doem de tão entregues a tudo e quase
nada. Sorria-lhe debochada, a parede, cheia de vivências pretéritas, também das
vivências que, prestes a acontecer, surrupiavam de leve sua tranquilidade.
Decerto havia o
que lhe cegava, o que lhe calava, o que lhe tapava os ouvidos e tantas vezes
sua própria respiração, mas no tato era capaz de desvendar em si os segredos por
ora irreveláveis desta ausência de verdades. Era sutil entregar-se a si mesmo; ainda
assim era intenso encontrar-se em sua própria perdição.
E era mesmo no
silêncio que se realizava o encontro em que se perdia. No silêncio
realizava-se, vivia a si mesmo como a uma experiência espiritual de marcas
irreversíveis. Acreditava em sua própria beleza silenciada pela fumaça agora
dispersa pelo cômodo. Havia sim um comprometimento com a sua própria imagem,
mas na verdade ainda alcançava a coisa em si, como numa dança descoordenada de passos
mal ensaiados que enriqueciam o espetáculo. Era beleza, era ternura, era
verdade, alcance, entrega. Mas se via como era e era esta sua suficiência. E
foi aí que descobriu, afinal:
Trancar-se em
si mesmo era de uma liberdade sem tamanho.
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