segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Will You Love Me Forever?


Tocava Will You Love Me Forever?. De imediato, a lembrança de teu rosto umedecido parecia uma presença. Cheguei a sentir teus pelos eriçados roçando em minha pele. Teu olhar lacrimejante curiosamente aparentava ter sido desenhado sobre tua feição triste e solitária, delineado em sua imprecisão. Uma súplica. “Não vá embora, jamais”. Silenciosamente desesperada, tua súplica era uma mentira que contavas a ti mesmo e o desespero nascia da certeza de que nunca serias capaz de evitar minha partida.

O intrigante, você já sabia, era que eu não desejava ir embora, nem por um segundo. Em meu olhar, esboçava-se a satisfação em ser tua, entrelaçada em teus braços, suscitando teus passos, sutil e tua, descompasso. Teu desespero nascia da minha certeza – e crescia em tuas desproporções, em tuas desarmonias, em teus descuidos e, inevitavelmente, glorificava-se em tua dúvida incurável. Às vezes eu era capaz de ouvir a latência em teus pensamentos de tua principal e emudecida insegurança: como alguém poderia ter tanta certeza?

Tocava My Baby Cares For The Animals. Você ainda parecia estar ali. Sorriso mudo, agora. Olhar carinhoso. A angústia se dissipara dando lugar a uma profunda gratidão. “I like you the best”. Toque de lábios, dedos se encontrando em harmonia. “Yes, I do”. Tua presença era agora excruciante em mim. Tua maior beleza à tona: sentir-se amado como quem recebe o melhor dos presentes. Tua presença era, agora não restavam mais dúvidas, a minha saudade do que havia de mais brilhante em você. Há tempos você havia se apagado em mim.

Te acendi como uma luz no peito que, acelerada, ilumina todo o arredor. Você sempre soube que eu partiria com as minhas certezas no bolso, sufocada e desistente. “If you love me, don’t eat me”. Soube que, entre desarmonias e descuidos, equilíbrio é utopia. “If you want me, be sweet”. Teu desespero nascia da minha certeza e jazeria na consumação de tuas suspeitas.

Tocava Skeleton Key. Você se dissipava lentamente, deixando apenas teu riso mudo, teu olhar carinhoso e tua profunda gratidão. Era só o que eu queria guardar da tua presença, os raros momentos em que você se esquecia de que me faria partir eventualmente e, em tons delicados e honestos, desenhava-se à minha frente exatamente como agora, ausente de passado e futuro, entregue ao presente de sentir-se amado. Estou decidida. Apenas tua maior beleza vou guardar comigo. “And you’re finally free to twist and turn like a skeleton key”.

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