Não há, nas palavras, como dizer. Só no
silêncio. E a necessidade de trans-bordar se retém em linha solta, desordenada.
─ Traço um
laço, fito a cena, enlaço o corte, descuido da seta.
O mudo revela: há mudanças costuradas em tecido
cobre, cobrando atenção para seus ditos, vibrando sua ferrugem desgraçada.
Não há graça.
Maria usa tesoura, usa papel, usa agulha, usa
purpurina, usa borracha, usa pedaço de pano, pedaço de papelão, pedaço de vida.
Maria não tem palavras, mas tem dizeres. Maria usa do mundo para desusar seus
hábitos. E desabita, inábil.
Não há como dizer, mas diz – afastem as
palavras que ela quer falar. Tirem de perto as pronúncias que ela assim se
manifesta: estática, calada de sons, bordando sentidos de saber e desconhecer.
Da borda da calça às bordas das experiências pulsantes de seus dias, Maria
trans-bordando negligência cala dores, e amores, e cores, e odores, e pudores
para seguir imitando a superficialidade da borda, que não adentra e não se
expande, que não se revigora nem transpassa; Maria só diz se for silêncio e não
se engraça em habitar.
Nas costuras de vivas passagens mudas, a linha
que liga Maria às desarmonias firmemente se prendia de uma borda a outra em uma
graça única que havia: Maria sentia poesia nos dias.
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