domingo, 27 de setembro de 2015

Caranguejo


Como um susto, des-cubro. Debaixo, há o não-saber. Assustada, não sustento a verdade: desconheço o limite que evita a fusão. Tento que seja meu o que me sustém, e não é. Tento conhecer o que não é meu. O teu é?

Nunca sei.
Por isso o susto.
Por isso assusto.
O meu desconhecimento escurece a visão e não me deixo ver. Ou vejo...

PERCEVEJO. Fincá-lo na pele não confirma suas raízes, mas fere, tatua, sangra na marca que deixa. Se percebo o percevejo, finjo que não vejo. Deixo e me esqueço - não dele; de mim.

Cubro-me.

Debaixo, há o desconfiado que não se pronunciou. O desconfiado em silêncio, o desconfiado em muda-nça. Sustento-me se percebo o manto que me envolve e crio minhas ilusões de segurança, embora seja aqui o único lugar. Coberta, calo as descobertas, mas grito alívios.

POR SI VEJO, há em mim uma terceira pessoa que pede seus devidos pronomes. E se vejo, si vejo cítrica. E se não vejo, agridoce. No paladar, descubro o sabor para me dar. Desvendo-me ao deixar de não me ver.

Estou entre coberta e descobertas. Estou entre deixar de ver e desvendar-me. Entre o percevejo cravado e o por si vejo despertado. Entre o mudo e a dança. Eu lhes asseguro: não estou segura. O limiar é casa de ninguém; e o limite entre ser e te conhecer, perco-o no instante deste limiar. E aí, ou peixe... ou caranguejo-me.

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