sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Destino do Casal Entrelaçado

Os dois estavam abraçados. Era um pequeno banco de praça e já passavam das duas da manhã. Não me pergunte há quanto tempo estavam ali, ou com que freqüência o nariz da garota roçava no pescoço do rapaz. Não me pergunte se eram apaixonados, porque isso você poderá descobrir. Pergunte-me apenas o que eu fazia ali, observando um casal entrelaçado em um banco de praça.

Não, eu não sei. Sei apenas que me atraíram. Era interessante a maneira como o olhar dela brilhava e o dele permanecia tão frio. Imaginei logo que ele estaria pensando em deixá-la. Quase fui perguntar. Não o fiz, óbvio.

Não era uma daquelas moças cheias de beleza. A beleza dela não estava em seu rosto, nem em seu cabelo. Estava no seu olhar profundo. Ela parecia ser daquelas donzelas ingênuas cheias de carinho e romance dentro de si. Cheia de vida.

O rapaz não se equiparava à garota. Tinha um charme incrível, e mostrava-se muito atraente, de verdade. Poderia ser até uma boa pessoa, mas eu não gostei dele. Não gostei pois não parecia nem um pouco grato por ter uma menina tão encantadora ao seu lado.

Sinto-me constrangido em dizer que observei por muito tempo. Nada daquilo tinha a ver comigo, eu era apenas um homem curioso tentando descobrir o destino de uma garotinha singela.

Dois minutos se passaram após a minha análise profunda do rapaz, até que ele falou. A menina pareceu levar um susto, mas sorria.

Aproximei-me. Precisava ouvi-los. Precisava saber o que se passava.

Não havia mais ninguém por ali naquela noite, conseqüentemente não precisei chegar muito perto para ouvir o que diziam.

- Eu sei que você me ama de verdade. Desculpe-me por não te demonstrar o mesmo, sim?

O sorriso da garota desapareceu.

- Então você... você não corresponde?

- Claro que sim. Plenamente. Eu só não sei... só não sei...

- Parece-me que pouco sabes.

Ele a olhou nos olhos. Acho que não havia entendido o que ela queria dizer.

- Eu... amo muito você. Mesmo. Nunca me senti tão bem ao lado de alguém.

- Explique-me sua dúvida, então.

- Será que isso real? Sabe... você, eu... parece um sonho.

- E se for? Sonhos também são vividos.

- Eu não penso dessa maneira – ele se recostou no banco, abaixando a cabeça.

- Estou aqui para mudar isso. Estou aqui te mostrando que o sonho é a realidade, desde que nós o façamos ser.

- Você é boa demais para mim – disse, levantando-se. Pegou seu casaco e foi caminhando.

A garota o observava se afastar. Percebi que ela estava em conflito. Acho que estava pensando se valia ou não ir atrás dele. Ela se decidiu rapidamente, pois logo estava ela correndo em busca de quem amava.

Abraçou-o. Lágrimas caíram dos olhos dela. Não foi diferente com ele.

- Por que você não me deixa ir? Será melhor assim.

- Diga-me: você me ama?

- Claro que sim.

- Imagino, então, que não me queres ver no sofrimento. A partir do momento que me deixares, só dele me restará. Preciso de você.

- Eu não posso querer de você. Não torne isso mais difícil.

A mão da garota foi levemente tocando a face do garoto, acariciando muito atentamente sua bochecha. Sorriram, os dois. E eu também. Ela o beijou. Quase chorei eu mesmo com a emoção da cena.

Ao separar dos corpos, o rapaz voltou a sorrir. De repente, os dois gargalhavam.

- Você sabe que eu nunca vou conseguir te deixar, não é? – disse o rapaz, segurando na cintura da moça.

- Eu sempre soube – e seu sorriso se abriu ainda mais.

Não me pergunte o que aconteceu depois. Deixei que o amor deles fluísse, privativamente. Sem espiões.

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