quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fantasma da minha imagem


A figura do espelho sorri malevolamente, oferece encanto e perigo, luz e trevas. Adoravelmente, mergulha no oceano da minha alma e passeia sorrateiramente por toda ela, desvendando segredos e calúnias. Tu podes me tocar, doce reflexo? Podes me sentir?

As risadas ecoam pelo quarto, brincam com minha sandice. A luz sempre reflete, em algum momento. Sempre estará escondida, bem à nossa frente, desafiando nossos aguçados sentidos.

Exacerbarei os meus extintos de sobrevivência. Quebrarei este reflexo, este ameaçador reflexo. Terás de ir, meu querido. Optarei pela mentira, simularei minha força. Enquanto todos acreditam que pude me livrar de meu fantasma, estarei sofrendo com a sua ausência. Permanecerás assombrando meus sonhos, engolindo meus desejos, vivendo da minha paz acabada. Meu simpático fantasma, jamais sairás de mim.

O dom natural do ser humano é safar-se. Fugir das inimagináveis situações que lhe surgem, de qualquer forma, seja essa óbvia ou não. Como humana, afastarei meus temores. Não te perderei completamente. Ao te aniquilar, terei em mim a tua eterna lembrança viva.

Não me escaparás nunca, afinal. Posso enfim te ter como o meu infindável presente. Aquele que guardarei em meu interior e cuidarei com dedicada amabilidade. Nenhum dos ventos será capaz de te levar. Estarás em mim, e só em mim viverás.

Nunca me disseram ser fácil assassinar. Talvez seja para alguns, aqueles cujos corações vivem como pedras. Mas para mim não é a melhor das tarefas, especialmente quando aquele a quem devo tirar a vida é aquele a quem tenho maior apreço.

E podemos chamar de vida isso o que tens? Isso que finjo saber que tens? Acreditar na mentira é o que fazemos, por essa costumar ser tão cômoda. A verdade beira a nossa visão, mas é o falso que nos atrai, o falso que procuramos. É nele onde os nossos deliciosos desejos encontram um lar.

É por acreditar na mentira que nesse momento matarei você. É por não conseguir me libertar de sua imagem que agora me prenderei eternamente à sua memória. É por mentires para mim que te deixo aos destroços, caído ao chão sangrando o afiado vidro.

E nesta hora me despeço de sua imagem, de seu hálito, seu perfume. Dou adeus às suas manias e loucuras. Choro a falta que sentirei de agora em diante, ainda que meu desesperado coração saiba: estarás eterna e docemente dentro de mim, continuarás vivo em meus pensamentos e sonhos. O mais açucarado delírio, a mais saborosa ilusão.

Viverás em mim, fantasma. Em mim terás sempre abrigo.

2 comentários:

Megumi ~ disse...

Meu deus! Nem sei por onde começar. Amei seu estilo, e amo esse tipo de leitura. Também gostei porque me identifiqui com algumas partes. Parabéns, você escreve muito bem! Vou ficar de olho por aqui!

A.J. Megoz disse...

Eu nao sei falar o português muito bem, mais eu tento fazer... Seu texto é muito bom, eu estava procurando umas palavras. Eu encontrei suas e eu gustei...

Hablo español así que creo me entenderás un poco. Quisiera seguir tu blog. A diferencia de ti yo no escribo muy bien, pero lo intento. Además necesito hablar portugués y ¿qué mejor que leerlo?

Entao eu só vou dizir uma coisa: parabéns!