sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Cheira-testa, beija-cabelo


Queria dizer antes de mais nada que estou escrevendo em razão do cheiro do seu cabelo quando eu te abraço. Você é uma menina singular, sabia disso? O cheiro de ninguém muda assim, só porque eu cheguei bem perto, olhei nos seus olhos e beijei sua testa. Mas eu já era capaz de sentir as maçãs do seu rosto coradas de um jeito que fica ainda mais bonito em você.

Sabe, menina, quando eu encontrei você naquele bar, olhar perdido nos sorrisos dos bêbados eufóricos que passeavam até o banheiro ou à pista de dança, rímel escorrendo no rosto e batom acumulado nos arredores dos lábios, o corpo carregado de angústias que a vida traz, tenho certeza de que você saberia dizer com clareza o propósito de cada um naquele lugar. Você é dessas: capta a coisa sem que a coisa mesmo saiba que está sendo captada ou que você esteve de olho na coisa. Mas eu poderia jurar que você não fazia ideia do que eu queria (e quero, mesmo hoje).

Entre tequilas e piadas ruins, você me ganhou nesse jeito teu de olhar como se não quisesse nada e mesmo assim querendo tudo. Tu me faz cometer uns bons erros de concordância nominal, tanta é a vontade quando me sinto à vontade contigo. Queria pedir outra dose, e outra, e outra, só pra estender aquele momento em que eu olhava pra você pedindo mais e você me olhava pedindo “devagar” enquanto sussurrava “mas tenho pressa”. Até porque sempre me odiei que nunca fui capaz de fazer sentido no que desejo, mas quando esse paradoxo era em você, era sexy feito seu jeito de abaixar a cabeça pra rir mas depois levantar o olhar com um meio sorriso.

Do mesmo jeito que você me deixou sozinho naquele bar sentindo que eu só queria mais um pouquinho de você, a gente vai se deixar em algum lugar dessa vida. Pode ser que a gente divida mais uma mesa, mais doses de tequila, que eu repita minhas piadas ruins pra você rir sem graça depois. Acho até que vou te beijar na testa muitas vezes ainda. Sei que tu vai captar meu jeito antes mesmo que eu perceba que estou sendo decifrado, até porque consigo ser bem previsível quando estou de bem comigo (tanto que é certeza que vou errar concordância quase sempre que estiver contigo, tu me faz um bem danado, pequena, faz mesmo).

Mas antes que a vida me jogue pra um canto longe do teu, tu precisa saber: o cheiro do teu cabelo quando eu te abraço é das coisas mais gostosas que eu senti nessa vida, ainda mais quando eu sei que você corou e deu um sorrisinho silencioso pra eu não perceber. Mas eu soube, eu sempre sei. Porque eu tô sorrindo silencioso aqui dentro também e isto eu sei que você também já captou, menina, você é muito esperta. Tão esperta que vai embora da minha vida antes que eu limpe o canto do seu olho manchado de rímel e tente consertar suas angústias como se fossem minhas. Só não vá embora antes de perceber que o cheiro do seu cabelo fica diferente quando eu tô do teu lado, pequena. Não vá embora antes de perceber o que é seu quando sou eu que estou com você. Te deixo ir embora – e você vai mesmo – mas leva alguma coisa de mim que eu guardo o cheiro de você; mas me deixa ficar em você que vai embora.

Um comentário:

Natie disse...

Que coisa mais linda, Mille. Cada dia que passa sou mais desesperadamente sua fã.